Instituto Ivoti - Schola semper reformanda

O problema se dá na comparação com nossa ética do trabalho. Quem não trabalha, não come! Se bem que isso já é uma mentira. Há tantos que trabalham tanto e comem mal, e tantos outros que comem tanto e trabalham mal. Ou será que o médico trabalha mesmo mais do que o lixeiro? Ou a professora mesmo mais do que sua empregada doméstica? Ou o capitão de indústria mais do que o operário? Há diferenças de responsabilidade, você me dirá. E eu lhe lembrarei da exploração da mais-valia. Por que assinar um cheque vale mais do que apertar um parafuso? Ou assinar um memorando mais do que carregar um fardo de sessenta quilos? Há diferenças de escolaridade, você me dirá. E eu lhe lembrarei que as chances na verdade não são iguais para todos. Por que aquele a quem o Estado deu estudo deve ganhar mais do que aquele a quem o Estado não o deu? Não, o problema não é o trabalho. O problema é o salário. O problema é a sobrevivência, para não falar em vida digna. Pois se você não se rebela contra aquela senhora que dá um quilo de filé-mignon por dia ao seu delicado cachorrinho felpudo, que só sabe latir elegantemente, e vive se queixando que paga demais à empregada com seis filhos e um casebre sem marido, por que rebelar-se pelo fato de patrão do reino decidir que quem tem fome merece receber um salário digno?

Semente de Esperança